quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Por uma política para juventude subversiva

Marcio Carvalho*

Quando a ordem estabelecida está equivocada é preciso subvertê-la. O Brasil possui mais de 50 milhões de jovens entre 15 e 29 anos.  78% das mortes entre jovens são por causas externas evitáveis (acidentes de trânsito, homicídios), 30 % dos casos notificados da epidemia de AIDS concentram-se no grupo de 15 a 29 anos, menos da metade dos jovens, em idade “ideal” (15 a 17 anos) frequenta o ensino médio, 30,4% podem ser considerados pobres (com renda domiciliar per capita de até ½ salário mínimo), apenas 15,8% dos jovens são oriundos de famílias com renda per capita familiar de mais de 2 salários mínimos. Extermínio da juventude negra, homofobia, invisibilidade da luta das jovens mulheres.
Este é o estado da arte que vale a pena debater sobre política para juventude no Brasil.
Respeito os(as) pensadores(as) que ainda insistem em pautar as políticas públicas para juventude – PPJs somente pelo aspecto positivo, porém estas linhas serão dedicadas a debater problemas para buscar soluções.
Do ponto de vista da institucionalização das PPJs no Brasil temos uma Secretaria Nacional de Juventude, gestores estaduais em todos os governos e um número ainda tímido de gestores municipais.  Aqui não temos um problema temos uma solução (ou várias). O problema é que em muitos casos não temos um alinhamento conceitual do que é “juventude” no Brasil e quais são suas grandes questões.

Ampliar o debate de conceitos

Mesmo com os esforços de vários pensadores, intelectuais e militantes em pautar o tema juventude temos ainda pouco material disponível. É preciso apostar nas convergências de prioridades, no pensamento das grandes e urgentes questões.
Nesse sentido cabe um esforço coletivo das forças políticas e pensadores para produzir cada vez mais para o tema. É preciso que cada envolvido com a temática assuma um compromisso com a sociedade de que o conhecimento adquirido na prática da sua atuação não se resuma a uma caixa de lembranças pessoais, é preciso compartilhar cada vez mais.
Uma maior produção de conhecimento sobre a juventude nos ajudará a promover cada vez mais análises sobre os contextos e perspectivas, o que ajuda a consolidar o tema na sociedade.
Alinhamento conceitual mínimo é um desafio das PPJs no Brasil.

Unidade de objetivos em diferentes contextos
Se cada gestor “criar” suas prioridades sem um estudo ou base na realidade local teremos milhares de projetos espalhados pelo Brasil. Se o projeto advém de um debate público, de estudos comprometidos com o bem estar da população jovem, com certeza teremos uma ação qualificada que trará bons resultados. Não estamos aqui advogando contra as novas iniciativas de políticas de juventude, pelo contrário, queremos incentivar o que de melhor as comunidades podem produzir, porém é necessário que a política de juventude também trabalhe com os grandes temas da juventude e do Brasil.
Neste sentido a questão dos óbitos por causas externas evitáveis (homicídios, acidentes de trânsito) se torna central na nossa pauta, bem como na radicalização da democracia através de participação política da juventude (que em tese é uma pauta permanente de todo movimento juvenil).
Quando o tema central da política é eficiente como política pública, abrem-se, por conseqüência, as condições para que um conjunto de outros temas também possam realizar-se. Assim teremos uma política centrada nos grandes temas e, ao mesmo tempo, um espaço para criatividade e diversidade juvenil brasileira.

Integração das políticas

A premissa para iniciar este debate é admitir que a integração entre políticas públicas é um desafio generalizado.  Temos muitas tentativas e experiências que dialogam e que se propõe a resolver esta questão, mas no geral (95% das vezes) que debatemos gestão pública, o que identificamos nos governos são políticas departamentalizadas, divididas em caixinhas de poder. Muitos são os fatores que levam a esta departamentalização (ego dos administradores, insegurança política, individualismo institucional, o famoso “na minha secretaria tá tudo certo”, disputas eleitorais entre outras razões superficiais e/ou infantis), não vamos tratar deles, mas é preciso admitir e não subestimar a sua existência.
A integração das políticas públicas é a antítese do individualismo gerencial. Enquanto na departamentalização os principais beneficiários são os gestores e técnicos das políticas que tem de cuidar só do seu cercadinho, com políticas integradas o principal beneficiário é o povo, que terá acesso a um conjunto de políticas que integradas promovem realmente o desenvolvimento social.
É preciso que gestores e dirigentes exercitem e ampliem sua capacidade de diálogo e de objetividade na resolução das questões públicas.
A gestão e desenvolvimento das políticas públicas para juventude exige, em boa parte das ações, uma integração do conjunto das políticas do território e uma integração do tema nas políticas, numa relação dialógica.

Agora precisamos debater cada vez mais as questões acima citadas com objetividade e coragem.

Se a ordem estabelecida é:
ü  A mortalidade crescente de jovens (em especial jovens negros) por causas externas evitáveis (homicídios e acidentes de trânsito). É PRECISO SUBVERTÊ-LA!
ü  Invisibilidade da luta das jovens mulheres É PRECISO SUBVERTÊ-LA!
ü  Homofobia crescente na sociedade. É PRECISO SUBVERTÊ-LA!
ü  Ensino médio esvaziado de jovens e ultrapassado. É PRECISO SUBVERTÊ-LA!
ü  Falta de oportunidades para emancipação da juventude brasileira nos municípios. É PRECISO SUBVERTÊ-LA!

Por isto precisamos de uma política para juventude subversiva.

Os debates e a luta continuam.

“Liberar a ação política de toda a forma de paranóia unitária e totalizante; alastrar a ação, o pensamento e o desejo por proliferação e disjunção (e não por hierarquização piramidal); liberar-se das velhas categorias do Negativo (a lei, o limite, a castração, a falta) investindo o positivo, o múltiplo, o nômade; desvincular a militância da tristeza (o desejo pode ser revolucionário); liberar a prática política da noção de Verdade; recusar o indivíduo como fundamento para reivindicações políticas (o próprio indivíduo é um produto do poder) etc”.
(FOUCAULT, Michel - Anti-Oedipus: Capitalism and Schizophrenia. New York: Viking Press, 1977, pp. XI-XIV. Traduzido por Wanderson Flor do Nascimento. Revisado e formatado por Alfredo Veiga-Neto)

1 = Subverter (dicionário Priberam on-line de Língua Portuguesa) A) Voltar de baixo para cima; revolver; b). Arruinar; destruir; c) Submergir; d) Perverter; e) Revolucionar.



* Marcio Carvalho, 34 anos, é historiador, Vice-Presidente da Fundação Ulysses Guimarães do Paraná e atua no momento como Coordenador Geral de Relações Institucionais da Secretaria Nacional de Juventude do Governo Federal

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