Uma nova etapa da pesquisa “Juventudes Sul-americanas: diálogos para a construção da democracia regional” teve início. Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai realizaram este mês, os Grupos de Diálogo Nacionais (GDN). Esta nova fase busca identificar ações que os(as) jovens sul-americanos(as) podem levar adiante para assegurar seus direitos a partir de suas experiências em movimentos sociais e organizações juvenis.
“Temos tentado encontrar o caminho para assegurar os direitos dos jovens e fortalecer as relações entre os países. É muito complicado. Uma das possibilidades é nos fortalecer nacionalmente e, como consequência, teremos um fortalecimento regional”, analisa Marina Ribeiro, pesquisadora do Ibase e integrante da equipe brasileira da pesquisa.
Durante as discussões, alguns aspectos puderam ser observados com maior destaque pelos coordenadores em cada país. No Chile, o coordenador Oscar Dávila observou um grande interesse em participar do Grupo de Diálogo. “Chegou ao ponto de precisarmos limitar o número de integrantes”.
Para Mario Yapu, coordenador na Bolívia, “o conhecimento e o reconhecimento, a compreensão e a integração entre os jovens, deixando regionalismos e conflitos de lado e constatando a similaridade entre suas demandas, sem exclusões de qualquer tipo, foi um destaque muito positivo”.
Contudo, como aspecto negativo, ele ressalta, além da pouca participação de jovens indígenas, a reunião do presidente Evo Morales com o vicepresidente Alvaro García Linera e outras autoridades do Movimento ao Socialismo (MAS), realizada no mesmo local, como obstáculo à circulação dos jovens.
No Uruguai, assim como no Brasil, o bom funcionamento da programação, o material gerado pelo encontro, o intercâmbio entre organizações diferentes e o estabelecimento de redes e contatos foram os pontos positivos principais. “Acho que o que ficou de mais marcante é como pode ser rico o diálogo entre os diferentes grupos juvenis. Como eles tem muito que dizer um ao outro. Muitos deles manifestaram que foi uma experiência muito profunda”, afirma Helena Abramo, coordenadora do Brasil.
A coordenadora do Uruguai, Lilian Celiberti, observou como único ponto negativo a pouca participação das mulheres. Ela afirma que o fato se deu por coincidência, já que “durante o processo, lutamos pela igualdade de participação”.
No Brasil o que atrapalhou foi o calendário. “Recebemos menos de 70% do número esperado de jovens. O mês de abril teve muito feriados. Para muitas organizações, assim como para nós, esse fim de semana foi o primeiro possível para realização de seus encontros”, relata Helena.
Na Argentina, a coordenadora Dana Borzese destacou “o interesse e a predisposição dos jovens para o diálogo e a diversidade de temáticas representadas em relação às demandas”. E também um momento especial, que foi surpreendente e poderia ter um desfecho negativo: “uma divergência na visão do papel do Estado em relação ao atendimento das demandas dos jovens gerou uma importante discussão em que sobressaiu a predisposição dos diferentes grupos para ouvir outras opiniões, o que resume bem o clima do encontro”, revela.
Na Argentina, foi realizada ao final do GD uma oficina sobre “Visões à respeito da juventude e políticas de juventude”, na qual foram apresentados e discutidos os resultados da Pesquisa Nacional sobre Juventude, em 2008, parte quantitativa da pesquisa regional Juventudes Sul-americanas, da qual os Grupos de Diálogo Nacionais também são parte. O evento contou com a participação de jovens do GD, equipes técnicas e políticos de diferentes âmbitos do governo e membros de organizações que trabalham com jovens. “Nos pareceu importante gerar um espaço de diálogo comum entre os jovens e personagens que atuam na área de juventude”, explica Dana.
Dados sobre os Grupos de Diálogo
Argentina
Quando – 7 e 8 de maio
Onde – Buenos Aires
Participantes – 26
Origem dos participantes - Mendoza, Santa Fe, Jujuy, Río Negro, Santiago del Estero, Salta e Buenos Aires.
Organizações - “Jóvenes de Pie”, La Matanza - Buenos Aires; Agencia de Desarrollo Local de Abra Pampa – Jujuy, el Culebron Timbal, Provincia de Buenos Aires, Área Cultural de la Juventud de Fundación Gente Nueva de Bariloche Rio Negro; Secretaría de Juventud de CTA (Central de Trabajadores Argentinos); Red Nacional por los Derechos de Salud Sexual y Reproductiva; Plataforma Federal de juventudes de Argentina. La Cooperativa de educadores e investigadores populares de la Ciudad de Buenos Aires y Conurbanas.
Bolívia
Quando – 8 a 10 de maio
Onde – Cochabamba
Participantes – 39
Origem dos participantes - Santa Cruz, La Paz, Potosí, El Alto e Cochabamba.
Organizações - Kopajira Ari, Corporação Quijotadas, Asociação de Arte, Cultura e Desporte San Isidro (ACDSI), Jovens Autênticamente Guardieños por uma Ação Renovadora (JAGUAR), Grupo Hip Hop Ukamauyké, Fenatrahob La Paz, Fenatrahob Santa Cruz y ECOCLUBES. Grupo Juvenil do Conselho de Ayllus, de Potosí (Juventude CAOP), grupo jovem Santa Vera Cruz de Cochabamba, Ecoarte de Santa Cruz e grupo Hip Hop CírculoVicioso de El Alto.
Brasil
Quando – 15 a 17 de maio
Onde – São Paulo
Participantes – 27
Chile
Quando – 8 a 10 de maio
Onde – Quilpué
Participantes – 40
Origem dos participantes - Valparaíso, Viña del Mar, Quilpué, Villa Alemana, San Felipe, Putaendo, Santiago, Concepción e Iquique.
Organizações - Grupos pela igualdade de gênero, gestores e centros culturais, movimento estudantil secundário, altermundistas, imigrantes peruanos residentes no Chile, movimento estudantil universitário, movimento juvenil sindical, de minorias étnicas ou povos originários (mapuches), coletivo pela diversidade sexual, coletivos ecologistas e ambientalistas, juventudes políticas e meios de comunicação alternativos.
Paraguai
Quando – 21 a 23 de maio
Onde – San Bernardino
Participantes - 33
Origem dos participantes - Ñembucú, Alto Paraná, Caazapá e San Pedro
Uruguai
Quando – 8 a 10 de maio
Onde – Flores
Participantes – 36
Origem dos participantes - Montevideo, Canelones, Maldonado, Rivera, Salto e Colonia.
Organizações - juventudes políticas da Frente Ampla e o Partido Nacional, Movimento pela legalização da Cannabis, Murguistas, Cooperativistas agrários, feministas e sindicalistas, Grupo de produção audiovisual Arbol, Clown-destinos, jovens participantes do FSM 2009, Comuna Canaria Jóven, Mesa Departamental de jóvenes de Maldonado, Igreja Metodista de Colonia, Federação de Estudantes Universitários (FEUU), Centro de estudantes de Rivera, Centro de Estudantes da Regional Norte da Universidad de la República.
Encontro Regional
A pesquisa agora se aproxima de sua reta final. Após a primeira etapa, em que jovens de diferentes organizações e movimentos discutiram suas demandas nos grupos focais (qualitativa); a segunda, em que cerca de 14 mil pessoas responderam a questões referentes à juventude (quantitativa); e a terceira fase, dos Grupo de Diálogos Nacionais (GDNs), terá início a última etapa do projeto. O Grupo de Diálogo Regional será realizado no Brasil, de 16 a 20 de junho, na cidade do Rio de janeiro.
Esta última etapa contará com a presença dos coordenadores e de jovens dos seis países participantes da pesquisa. Neste encontro, da mesma forma que nos GDNs, os(as) jovens sul-americanos, selecionados(as) em seus países, irão refletir sobre possíveis ações que possam garantir seus direitos a partir de estratégias conjuntas agora em âmbito regional.
Sobre as expectativas para o encontro regional, Oscar Dávila, Mario Yapu, Lilian Celiberti e Dana Borzese, coordenadores da pesquisa em Chile, Bolívia, Uruguai e Argentina, respectivamente, dividem opiniões semelhantes:
“Acreditamos que é uma valiosa oportunidade de encontro e intercâmbio entre jovens da região para compartilhar e descobrir realidades e pontos em comum na maneira de defender os direitos dos jovens. Também nos parece fundamental para proporcionar um olhar regional aos desafios e demandas dos jovens de cada país. Além de ser uma possibilidade de interpelar os governos nacional e supranacionalmente à respeito da juventude e da necessidade de políticas públicas para ela”, resume Dana.
“Acho que vai ser muito interessante pra nós, que estamos nessa pesquisa há dois anos e meio comparando os resultados regionais, poder ver como isso vai se processar no próprio grupo. Se a diversidade interna já foi muito interessante, imagina juntando os seis países”, complementa Helena.
“Fala-se muito em integração econômica entre os países do Mercosul, mas não se pensa em integração entre os povos, em aproximação das culturas da região”, analisa Marina Ribeiro, pesquisadora do Ibase.
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