domingo, 19 de setembro de 2010

Pesquisa mostra que 82,3% dos jovens de BH têm pouco ou nenhum interesse na política

O interesse da juventude de Belo Horizonte por política é pequeno: 82,3% declaram pouco ou nenhum. O dado faz parte da pesquisa “Juventude, participação e voto”, realizada pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG/Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômica (Ipespe), em parceria com a Associação Democracia Ativa. A estudante de fisioterapia Renata Pimentel de Oliveira, de 23 anos, resume o sentimento em relação à política: “Nunca gostei. Eles chegam ao poder querendo ser honestos e, depois, tudo muda. Mesmo assim, política é importante”. Com Renata faz coro Marcos Cotta, 20, estudante de engenharia civil: “Não sou muito ligado em política, mas acho necessário saber quem escolher na hora de votar”.

Tal é a natureza do paradoxo. “Apesar do desinteresse em política, os jovens a consideram importante”, avalia a cientista política e professora da Universidade Federal de Minas Gerais Helcimara Telles, coordenadora do levantamento. O que ocorre é que ao mesmo tempo que 65,4% percebem o voto como um instrumento para influenciar o futuro governo eleito, os jovens são críticos em relação ao processo eleitoral e à representação política. Mais da metade sustenta que a maioria das pessoas que conhece aceita votar em um candidato em troca de alguma vantagem pessoal. Nesse sentido, apenas 35,8% concordam com a afirmação de que as eleições no Brasil são feitas de maneira limpa, sem fraudes, e têm resultados confiáveis.

Confira infográfico com os dados da pesquisa

A pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). Os dados foram extraídos do levantamento de campo, que fez 500 entrevistas com jovens de Belo Horizonte de 18 a 24 anos, entre 11 e 14 deste mês. A margem de erro do levantamento é de 4,5 pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro de um nível de confiança de 95%.

Compra de votos

Na avaliação de Michele Caroline Silva, de 21, estudante de direito, o desinteresse do jovem em relação à política é consequência, em primeiro lugar, da forma como os candidatos chegam ao poder. “Compra de votos impede que o processo eleitoral seja limpo”, afirma. Concorda com Michele a estudante de enfermagem Thaís Moura Radael, de 22, para quem a operação das urnas é limpa e segura, mas a conquista do eleitor não. “Todos sabemos que há compra de votos, o que constitui fraude. Não concordo com isso, mas tampouco condeno quem está precisando e faz a troca. Todos querem ganhar algo”, avalia Thaís.

Além da relação dos candidatos com o eleitorado, os jovens criticam os interesses envolvidos na representação. Para 59,4% o poder e a influência que se obtêm por meio do cargo é o que de fato justifica o interesse por cargos eletivos. Na contramão dessa percepção está aquilo que a juventude espera da representação: 52,4% acham que o político eleito deve ter a possibilidade de interferir para resolver os problemas do país, e outros 32,8% consideram que os eleitos devem ter a possibilidade de defender os interesses de sua cidade ou estado.

Confiança

Nesse hiato entre expectativa da representação e percepção de como ela de fato se dá, surge a baixa credibilidade nas instituições. Tércia Fernandes, de 21, estudante de administração, explica por que não confia nos legislativos e nos governos. “Acho que não confio não. Justamente pela corrupção. Deveria confiar nas instituições, mas não confio”, sustenta. No geral, é mesmo baixa a confiança que jovens belo-horizontinos depositam nas instituições.

Numa escala crescente de confiança de 0 a 10 pontos, em que 10 é a confiança máxima e 0 a menor confiança, a menor nota é obtida pelos partidos políticos: 3,71. Os legislativos também pontuam baixo. A confiança no Congresso, na Assembleia e na Câmara Municipal conquista médias, nessa ordem, de 4,28, 4,37 e 4,49. Enquanto a imprensa recebe nota 4,9, a televisão alcança 5, 26. A maior confiança é depositada nas igrejas (6,67) e nas organizações não governamentais (6,43).

O envolvimento dos jovens belo-horizontinos em associações de qualquer natureza também é baixo. Nada mais do que 42,4% nunca participaram de alguma delas. Entre os jovens engajados, os partidos políticos despertam o menor interesse: apenas 1,4% a eles se vinculam. No extremo oposto estão as associações religiosas, categoria mais citada, com a qual 8,2% da juventude da capital mineira registra envolvimento. “Eles participaram duas vezes mais no passado do que o fazem hoje”, afirma Helcimara Telles.

FONTE:ESTADO DE MINAS

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